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5 de novembro de 2012


Eu volto para àquele café todo o domingo.
Peço o mesmo prato de todas as outras vezes para a garçonete de cabelo curtinho, que até ri me oferecendo novas opções de comida. O cara da mesa ao lado me lança um olhar de pena, mas sei que ele também vem aqui todos os domingos desde a muito tempo atrás.
Os mesmos carros passam, a mesma moça suada de bicicleta, o mesmo anúncio de imobiliária estampado no muro do outro lado da rua.
Eu volto para esse lugar constantemente como se não tivesse outra escolha.
As mesmas notícias no jornal da cidade, os mesmos jovens passando e rindo colado na janela do café, os mesmos preços altos de tudo naquele lugar.
Você vinha aqui nesse lugar comigo e éramos somente nós, a garçonete-cabelo-curtinho sorria mais, e o cara da mesa ao lado sentava mais longe.
Eu vinha aqui pelas manhãs dos feriados com meu pai e falávamos de tudo.
Ria alto aqui com meus amigos, mais alto do que os adolescentes que aqui pelo lado sempre passam.
O café está cada vez menor, e eu já o vejo como ultrapassado, e isso é o meu maior medo.
Viro o jornal e está estampado na última página um mundo inteiro mudando todo o dia, e eu nesse lugar, brincando com a colher de açúcar como se fosse o melhor que eu pudesse fazer. 
Os mesmos panfletos espalhados na rua, o mesmo menino de rua deitado na calçada, a mesma vitrine tentadora, e eu agora sorrindo e virando a esquina errada em uma manhã de domingo.

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